Ilhabela

Parabenizo a Revista Cidade & Cultura pela brilhante matéria que segue abaixo.
Veja mais em www.cidadeecultura.com.br

***
Um arquipélago cercado de Belezas

Lua-Castelhanos
Aprendemos na escola que ilha significa um pedaço de terra cercado de água por todos os lados. Simplista ou não, essa definição ficaria melhor para Ilhabela se acrescentássemos: “cercada de águas e praias maravilhosas por todos os lados”. Não há como negar que, ao chegar ao arquipélago, temos uma sensação de isolamento, porém ao desembarcarmos, o que sentimos é o prazer de estar em um dos lugares mais esplendorosos do mundo.
Não é de hoje que Ilhabela encanta seus visitantes. prova disso é a frase que Américo Vespúcio disse quando esteve de passagem por aqui: “Se realmente existisse um paraíso na Terra, certamente estaria muito próximo a esta região”.  Bem, passaram-se muitos e muitos anos desde a chegada de Vespúcio, mas sua frase se encaixa perfeitamente com a cena que hoje pode ser observada.  Considerado um santuário ecológico, com natureza exuberante, praias de águas cristalinas, cachoeiras, piscinas naturais e tudo isso temperado com muito verde da Mata Atlântica, é o único município arquipélago marinho brasileiro localizado no norte do Estado de São Paulo.
Ao todo compreende 12 ilhotas (Das Cabras, Sumítica, Castelhanos, Lagoa, Figueira e Enchovas) e as ilhas de São Sebastião (onde se encontra a área urbana do município), Búzios, da Vitória e dos Pescadores. A ilha encontra-se separada do continente pelo canal de São Sebastião – anteriormente chamado de Canal de Toque-Toque -, possui 150 Km de costa divididos em 42 praias. A parte voltada para o continente (oeste) possui mar tranqüilo e a parte voltada ao oceano (leste), é uma reserva ecológica com 27.025 alqueires de área tombada abrigando enormes trechos da Mata Atlântica, cerca de 300 cachoeiras e muitas trilhas.
A vegetação
Cachoeira-da-TocaMata Atlântica – espalhada ao longo da costa brasileira, a Mata Atlântica é um complexo conjunto de ecossistemas de grande importância por abrigar uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, reconhecida nacional e internacionalmente no meio científico sendo considerada a floresta mais diversificada do planeta.  O elevado índice de chuvas ao longo do ano permite a existência de uma vegetação rica, densa, com árvores que chegam a 30m de altura como: jequitibá-rosa, quaresmeira, palmito, jacarandá, pau-ferro, murici, jambo, jambolão, xaxim, paineira, manacá-da-serra, figueira, angico, guapuruvu, maçaranduba, ipê-amarelo, jatobá, imbaúba, canela-amarela, que são os destaques dessa floresta. A Floresta Atlântica é uma floresta tropical plena, associada aos ecossistemas costeiros de mangues nas enseadas, foz de grandes rios, baías e lagunas de influência de marés, matas de restinga nas baixadas arenosas do litoral, às florestas de pinheirais no planalto, do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, e ainda aos campos de altitude nos cumes das Serras da Bocaina, da Mantiqueira e do Caparaó. A maior parte das espécies da fauna e da flora brasileira, em vias de extinção, é endêmica.
A Floresta latifoliada tropical é a mesma floresta úmida da encosta, mas se desenvolve nas vertentes das serras, à retaguarda do mar, não influenciadas diretamente pela umidade marítima. Muito densa, apresenta espécies bastante altas e de troncos grossos. No entanto, quando se desenvolve em solos areníticos, ou de calcário, o aspecto da floresta modifica-se completamente: ela se torna menos densa, com árvores mais baixas e de troncos finos. Quase inteiramente devastada, por possuir solos férteis para a agricultura, restam, de sua formação original, apenas, alguns trechos esparsos. O nome latifoliada deriva do latim (lati = “largo”) e indica a predominância de espécies vegetais de folhas largas.

Parque Estadual de Ilhabela
Criado em 1977, tem como objetivo garantir a proteção dos remanescentes da Mata Atlântica. Ao todo o Parque compreende 27.025 hectares que englobam 85% do município de Ilhabela, a Ilha de São Sebastião, as Ilhas de Búzios e Vitória. Em 1985 todas as ilhas do arquipélago de São Sebastião foram tombadas e incorporadas. Existe apenas uma região em que a construção de casas é permitida, na área que vai da Ponta das Canas, ao norte, à Ponta da Sela, ao sul. Ao longo do parque, encontram-se diversas praias exuberantes, cristas, picos de montanha, córrego, riachos, cerca de 300 cachoeiras, além de ilhas e ilhotas que abrigam diversificada fauna e flora. Características essas que fazem a região apresentar enorme potencial turístico. A abertura da Rodovia Rio-Santos (BR-101) foi essencial para o estabelecimento da região como pólo turístico, alterando substancialmente a paisagem.
Conversamos com Carolina Bio Poletto, chefe de unidade de conservação responsável pelo Parque Estadual de Ilhabela desde junho de 2007 e ela nos explicou que existem duas categorias que preconizam a legislação federal. Uma é a Proteção Integral, que não prevê nenhum uso direto de seus recursos, apenas uso indireto, que significa utilizar a área protegida como unidade de conservação para fins educacionais, de turismo, recreação e pesquisa científica. Da mesma forma que não permitem uso direto de verbas, também não são permitidas ocupações de condomínios e levantamento de casas, portanto hoje no Parque, principalmente no lado leste, há poucas ocupações e loteamentos. Outra é a de Uso Sustentável que permite o uso de recursos como: roça, plantio, extração de madeira. Dentro de cada um desses grupos, existe várias categorias como a APAS (Áreas de Proteção Ambiental), que são do grupo de uso sustentável. O Parque é definido por cotas altimétricas e compreende também as 12 ilhas do Arquipélago que são 100% pertencentes a ele. Há comunidades de caiçaras nas ilhas de Vitória, Búzios, Figueira e Saco do Sombrio. Todas essas comunidades que estão morando dentro do Parque estão inseridas, contabilizando cinco comunidades tradicionais caiçaras. Com elas, a lei é um pouco diferente do que com os outros tipos de ocupação. Os caiçaras que já estavam morando nessa área quando foi criado o Parque, têm o direito de morar nessa região e não serão removidos de lá, mas é necessário manter a qualidade de vida, bem como: qualidade de água, saúde, educação, projeto de saneamento básico e o direito de conservar seus costumes e sua subsistência.  O pessoal de Búzios e Vitória vive da pesca e do plantio também. Têm casa de farinha e plantações de mandioca.
ilha-bela-004
O passeio pelo Parque inclui uma série de atividades que permite ao visitante desfrutar das maravilhas naturais que rodeiam a região. Aqueles que desejam observar a rica biodiversidade da Mata Atlântica podem iniciar a visita com a trilha da Água Branca, com 2.145m de extensão. Ao longo do percurso, podem ser avistadas inúmeras espécies de pássaros, cachoeiras e piscinas naturais de águas cristalinas que também fazem parte do agradável roteiro. Foram identificadas, no Parque, 248 espécies de mamíferos e 53 espécies de anfíbios e répteis, boa parte restrita especificamente ao ecossistema local (espécies endêmicas). Além disso, 14 espécies de aves, 8 espécies de mamíferos, 6 de répteis, 1 de anfíbio e 1 de invertebrado, estão incluídas na relação da fauna brasileira de extinção. Complementa-se a função faunística do Parque com sua utilização como ponto de descanso e alimentação de uma enorme variedade de espécies de aves migratórias de longa, média e curta distância. No primeiro caso, estão aves como as batuíras e os maçaricos, provenientes do hemisfério norte, e os albatrozes, provenientes de ilhas sub-antárticas, além dos trinta-réis de bico vermelho. Já entre os mamíferos, destaca-se a presença das três espécies de baleias e, entre os répteis, de 5 espécies de tartarugas marinhas. Entre os migrantes de média distância, encontram-se aves como as guaracavas, marias-cavaleiras e tesourinhas, provenientes do planalto central brasileiro, e mamíferos como a toninha e o boto, vindos das regiões do sul do Trópico de Capricórnio. E, entre os migrantes de curta distância, há aves que realizam apenas deslocamentos de altitude, como o beija-flor-preto-e-branco e outras vindas do sul, como o caminheiro.


ILHABELA-01

A história desse arquipélago é feita de altos e baixos, tanto na questão econômica quanto na social. Muitas reviravoltas fizeram seus moradores carregarem dentro de si raízes marcantes que transparecem em suas atividades atuais.
O Homem do Sambaqui
“As pesquisas arqueológicas desenvolvidas nas últimas décadas no litoral paulista revelam que a ocupação humana mais antiga nesta região foi a dos pescadores-caçadores-coletores, grupos que baseavam sua subsistência principalmente na pesca, na caça de animais de pequeno porte e coleta de moluscos, crustáceos e de vegetais.
Esses grupos deixaram como vestígios de sua ocupação os sambaquis, sítios arqueológicos formados a partir do acúmulo de conchas de moluscos em um mesmo local ao longo de muitos anos. Além das conchas, neles pode ser encontrada grande quantidade de ossos de fauna marinha e terrestre, vestígios de fogueiras, objetos confeccionados em osso, dentes e concha, e artefatos feitos de pedra. Sepultamentos humanos também são encontrados nos sambaquis, muitos deles adornados com colares e pingentes.
Este tipo de sítio arqueológico está presente em quase todo o litoral brasileiro, assentados principalmente em ambientes estuarinos. Estas regiões ofereciam uma imensa variedade de moluscos e crustáceos ao longo de todo ano, que podiam ser obtidos com relativa facilidade por essas populações. No arquipélago de Ilhabela existe pelo menos uma dezena de sambaquis, mais até recentemente nenhum deles havia sido alvo de pesquisas detalhadas. Entretanto, escavações realizadas recentemente em um sambaqui na região de Furnas resultaram em um achado inédito que nos permitiu reescrever parte da história das primeiras populações que viveram nesta região.
Durante as escavações realizadas neste pequeno sambaqui localizado dentro de um abrigo rochoso, foram encontrados além de conchas, ossos de animais e alguns artefatos, um sepultamento humano ainda preservado. Porém, o esqueleto do individuo sepultado estava um pouco deteriorado e fragmentado devido as condições de umidade e a grande quantidade de blocos de pedra que havia sido colocada sobre ele.
Este indivíduo foi sepultado sem nenhum acompanhamento ou adorno, apenas em meio a conchas. Estava em posição fetal, com braços e pernas flexionados, e tinha um bloco de pedra intencionalmente depositado sobre o crânio.
Estudos realizados posteriormente em laboratório revelaram informações importantíssimas sobre o modo de vida e as condições de saúde deste indivíduo. Trata-se de um homem de aproximadamente 45 anos de idade. Seus dentes apresentam desgaste muito acentuado que chega a atingir a raiz, resultado do consumo de alimentos abrasivos e da utilização dos dentes como ferramenta. Apresenta também artrose em alguns ossos devido à idade avançada para as condições da época e possivelmente resultante de esforços por movimentos repetitivos.
Para que fosse possível saber a época em que este homem do sambaqui viveu em Ilhabela, uma amostra do esqueleto foi enviada para um laboratório em Miami, EUA. O resultado da análise revelou que este homem viveu há quase 2000 anos atrás, sendo até agora o mais antigo habitante já conhecido deste arquipélago.
Seus remanescentes sobreviveram ao tempo durante praticamente 2000 anos e agora nos permitem conhecer um pouco mais acerca dessas populações que viveram há tanto tempo neste arquipélago e que desapareceram muito antes da chegada dos colonizadores a essas terras. Além disso, este achado que compreende o primeiro sepultamento humano retirado em contexto de sítios arqueológicos em Ilhabela, nos permitiu obter também a primeira datação arqueológica para o município, cuja ancestralidade de sua ocupação era anteriormente relacionada à datação de um sítio arqueológico de outro município.”
Fonte: Cintia Bendazzoli
Caravelas a Vista
ILHABELA-07

Com a descoberta do Brasil, o rei de Portugal, D. Manuel, organizou uma expedição para saber das proporções e riquezas desse descobrimento. Tendo Gonçalo Coelho como comandante e Américo Vespúcio como participante, a investida trouxe inúmeros resultados à Coroa Portuguesa. Primeiramente, em 1501, as três caravelas destinadas à empreitada aportaram no Rio Grande do Norte, onde os desbravadores foram duramente rechaçados pelos índios e Gonçalo Coelho achou melhor zarpar imediatamente do local, contornando o litoral do Brasil. Com um calendário Litúrgico, os navegantes foram batizando os lugares por onde passavam com os nomes dos santos do dia correspondente.
E não pode ser diferente com a chegada dos navegadores pelos mares de São Sebastião, que recebeu este nome, logicamente por ser o dia do próprio, 20 de janeiro de 1502.

Ocupação
O período que começa com a nomeação da Ilha de São Sebastião até o recebimento da Sesmaria de Diogo de Unhate e João de Abreu, em 1608, é um período estagnado. Todas as tentativas de ocupação da Ilha foram desanimadoras.
Unhate e Abreu eram burocratas vindos da Vila do Porto de Santos, e junto com Gonçalo Pedroso e Francisco de Escobar Ortiz iniciaram a povoação na Ilha de São Sebastião.
Formou-se um povoado, atual vila, ao redor da igreja Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso, outro na capela de Conceição, na Praia da Armação e mais um povoado que chegou à condição de capela na Praia Grande, que estava do lado do forte do Portinho.

ILHABELA-11
Existe uma mística em volta do personagem do pirata. Hollywood eternizou em inúmeros filmes o lado poético dessa figura, transformando-a, muitas vezes, em heróis bandidos. O pirata também tem a simbologia da liberdade humana, não dependendo de ninguém e não seguindo nenhuma regra pré-estabelecida. Mas a realidade nua e crua não condiz com esse ufanismo. A pirataria é relatada desde os tempos da Grécia Antiga, citada primeiramente por Homero em Odisséia. São os ladrões dos sete mares que pilham e sacam todas as riquezas que possam obter, chegando até ao sequestro de pessoas influentes com o objetivo do resgate. Para tais “peripécias”, os piratas tiveram que obter grande conhecimento de navegação e são considerados os precursores dos conhecimentos da navegação marítima.
Com a descoberta das Américas, os ladrões dos mares se concentraram nas riquezas que eram extraídas para serem levadas à Europa. O Mar do Caribe transformou-se em verdadeiro Eldorado.
O litoral brasileiro não ficou imune às investidas dos piratas e Ilhabela foi palco de alguns deles desde 1553. Principalmente no lado leste da ilha que, por sua costa acidentada, os ladrões dos mares podiam esconder-se e ao mesmo tempo fazer reparos em suas embarcações e abastecê-las. O Saco do Sombrio era o ponto perfeito para isso; ficavam à espreita para atacar os navios espanhóis e portugueses que por ali passavam. Até Jose de Anchieta, em 1582, que ia de Santos ao Rio de Janeiro de canoa teve que ancorar em Ilhabela por conta do ataque de Edward Fonton (corsário inglês). Outros também perigosos passaram por aqui como o corsário Francis Drake, Anthony Knivet e o francês Duguay-Trouin.
ILHABELA-12O mais famoso pirata que por Ilhabela passou, sem sombra de dúvida, foi Thomas Cavendish. “Em 1591 Cavendish deixou o porto de Plymouth, na Inglaterra, com cinco navios e mais de 400 homens, e rumou para Ilhabela. O objetivo inicial da esquadra era atacar a Vila de Santos, e a frota ancorou na Ilha para se reabastecer e arquitetar seus planos. O ataque foi armado para a noite de Natal desse ano, quando dois navios ingleses entraram na pequena vila e aprisionaram toda a sua população, que então assistia à Missa do Galo na igreja local. Com a cidade dominada, o resto da esquadra foi chamada em Ilhabela para realizar a pilhagem. Os piratas permaneceram ali, dominando os habitantes e a guarnição militar portuguesa até 3 de fevereiro de 1592, quando partiram rumo ao Estreito de Magalhães para tentar a circunavegação do globo. Cavendish já havia realizado a façanha, pelo que era considerado um herói na corte da rainha Elizabeth. A esquadra quase foi dizimada pelas tormentas no extremo sul do continente. Dois navios afundaram, e os três remanescentes se perderam uns dos outros. Cavendish retornou com seu galeão Leicester para Ilhabela, em busca de abrigo seguro para reparar o navio e reabastecê-lo. Aqui encontraram outro navio de sua esquadra, o Roembuck, e aportaram. Poucas semanas depois tiveram que enfrentar uma esquadra portuguesa chefiada por Martim Correia de Sá, que veio combatê-los. Fugiram para o norte, na direção do Espírito Santo, e retornaram à Ilhabela alguns meses depois, com o projeto de queimar um dos navios, equipar o outro e seguir novamente para o Estreito de Magalhães. Com medo, parte da tripulação amotinou e se refugiou na Ilha. O capitão do navio Roembuk, Abraham Cocke, teria descido definitivamente em Ilhabela com seus homens. O fato é que nunca mais se ouviu falar deles. Cavendish tentou retornar à Inglaterra com o Leicester, mas morreu doente à bordo, no final de 1592, antes do navio alcançar seu destino.”
Muitos fatos curiosos e lendas surgiram desde a vinda dos piratas à Ilha. Muitas histórias que despertaram a curiosidade humana falam sobre os tesouros enterrados pelos saqueadores. Uma das mais extraordinárias é a do Tesouro de Trindade, cujo engenheiro, Paul Ferdinand Thiry, relaciona esse tesouro com o suposto tesouro de Monte Cristo (romance do francês Alexandre Dumas). É isso mesmo, a insistência na caça à riqueza tornou-se uma obsessão cheia de enigmas decifrados. Infelizmente são poucas as páginas em que podemos escrever essa longa saga, mas o que se pode dizer é que este tesouro estaria supostamente enterrado no Saco do Sombrio por corsários que o pilharam dos espanhóis quando esses saíram corridos do General San Martin, no Peru, em 1821. O navio espanhol simplesmente sumiu com todo o ouro das igrejas. Mas havia um mapa do tesouro! Sim, e foi atrás dessa pista que o abnegado Thiry passou durante 40 anos estudando-a e envolvendo as pessoas. O engenheiro faleceu sem nunca conseguir seu intento, mas as buscas ainda continuam com seu amigo Osmar e seu filho Roberto.
Outra curiosidade a cerca da pirataria é o povoado da praia do Bonete, também no leste da Ilha. A maioria dos moradores tem olhos de um azul profundo. Muitos dos que nasceram lá contam que seus antepassados eram descendentes de piratas.
Há presença desses ilustres homens também na parte oeste da Ilha, na Fazenda da Toca, onde as ruínas de uma antiga fazenda ainda existem. Essa fazenda era do chamado pirata português Borges. Conta-se que ele era produtor de cana-de-açúcar e também traficante de negros. Para se chegar até lá, percorre-se um trecho de uma hora e meia, morro acima. O mais interessante do lugar, que chega até a ser perigoso, são os buracos escavados pelos caçadores de tesouros, pois acredita-se que Borges tenha enterrado suas riquezas no local. Mais tarde, o pirata mudou para a praia do Veloso, sul da Ilha, e montou outro alambique, onde passou seus últimos momentos.




Salmone-ubriaco
Ainda bem que algumas tradições resistem ao tempo, como a culinária caiçara. Por trás do peixe, da farinha de mandioca e da banana, que formam uma combinação fantástica sobrevivente aos séculos, muitos aspectos históricos vem à tona. Bem, quando o assunto é gastronomia, Ilhabela possui variedades para todos os gostos que vão desde saborosos peixes e frutos do mar, típicos das cidades do litoral, até as delícias da culinária internacional.

Azul Marinho – O prato caiçara mais tradicional
“Antes de tudo é preciso compreender que a comida caiçara é bastante simples, praticamente sem gordura e só leva temperos naturais. Essa receita é para três pessoas. Três são os principais ingredientes do Azul-marinho: o peixe, a farinha-da-terra e a banana, que tem de ser colhida verde. Os melhores peixes para o Azul-marinho são a garoupa, o badejo, o olho-de-boi, a cavala e o melhor de todos: o bijupirá. As melhores bananas são a nanica e, preferencialmente, a São Tomé. Quanto à farinha-da-terra, existem vários tipos delas que são fabricadas no arquipélago de Ilhabela e no Litoral Norte. As melhores são aquelas fabricadas artesanalmente, em pequenos tráficos localizados em diversas comunidades tradicionais caiçaras das quatro cidades da região. A melhor farinha-da-terra é aquela em que o “tirador de farinha” aproveita a goma proveniente da decantação do caldo resultante da prensagem da mandioca ralada. Para preparar o Azul-marinho não há medidas certas, pois elas variam de acordo com o tipo de ingredientes, a prática e o gosto de cada um. O procedimento, entretanto, é primordial para apurar o sabor final do prato. Para começar, o peixe deve ser cortado em postas que não devem ser muito finas. As bananas verdes serão cozidas com as cascas e, por isso, devem ser pré-lavadas. São as cascas que darão a coloração que dá nome ao prato. Começa-se fervendo a água em uma panela, de preferência de ferro. Assim que a água começar a ferver, colocamos o sal a gosto, e, logo em seguida, as bananas, os tomates em pedacinhos, cebolas cortadas em rodelas, o coentro, e a alfavaca, tudo cru; deixando cozinhar em fogo alto por cerca de cinco minutos. Enquanto as bananas e os temperos cozinham, cabe uma explicação importante; existem várias espécies de coentro.
O mais utilizado em Ilhabela é um coentro de folhas largas, rasteiro, e que o caiçara conhece por coentro-cachorro. Na falta da alfavaca – uma planta hortense cultivada nos jardins devido seu aroma e beleza das folhas -, pode ser utilizado o manjericão. Passado os cinco minutos de cozimento, coloca-se as postas de peixe na panela. O ponto do peixe é sentido com o toque do garfo. Estando a carne devidamente cozida, o garfo penetrará com facilidade. Uma vez estando pronto, retira-se um pouco do caldo e a banana, que será descascada. A banana será utilizada para fazer o pirão que acompanha o peixe. Para fazer o pirão – que é uma papa grossa cujo ingrediente principal é a farinha-da-terra -, coloca-se a banana já descascada em uma outra panela. Após espremer a banana com um garfo, adiciona-se a farinha-da-terra e o caldo que foi separado do cozimento do peixe. Esse tipo de pirão deve ser bem ralo, ou seja, preparado com bastante caldo; caso contrário ele endurecerá muito rapidamente após servido no prato. Para quem aprecia pimenta, recomenda-se a malagueta, espora-de-galo, pimenta-botão ou alguma outra pimenta-de-cheiro. Acompanha uma cachacinha e arroz branco.”
No arquipélago, é possível encontrar restaurantes que conseguem aliar sabor e diversidade de ingredientes em ambientes favorecidos pelas belezas naturais. A arte da gastronomia faz parte da lista dos inúmeros atrativos encontrados em Ilhabela. Pelas mãos criativas dos cozinheiros locais, ingredientes simples, transformam-se em pratos finos e suculentos. A maioria à base de peixes, como a enchova, tainha, salmão, badejo e atum. Em muitos casos, eles são utilizados nos deliciosos sushis oriundos da terra do sol nascente que por sinal faz muito sucesso na região. Alguns peixes são comprados no arquipélago como a enchova, mas a maioria é importada como o atum e o salmão que vêm do Chile.
Desperdício e falta de criatividade são duas coisas que passam longe das mentes dos gourmets da região. Quando os peixes ultrapassam o tempo ideal para virar sushi aliados a outros ingredientes tornam-se pratos de dar água na boca. O salmão, por exemplo, junto com o purê de mandioquinha, coberto com molho de maracujá e azeite, tem agradado aos mais diversificados paladares. Alternativa bastante criativa e deliciosa que pode ser encontrada em Ilhabela é uma adaptação à culinária local, levando os peixes à grelha como se faz a tradicional picanha. Os peixes são ingredientes que dão base a muitos dos pratos na região, mas receita para a diversidade e qualidade inclui algumas pitadas de criatividade e outras de singularidade de quem prepara o menu.
A-barca-2Sushi
Ronan Kammer explica para nós como deve ser o preparo do peixe para este prato: “o tempo ideal para preparar o sushi são 2 dias após o descongelamento; caso o peixe seja apenas limpo e depois congelado, ele não é bom para virar sushi,  torna-se ideal para ser frito. Isso porque fica quebradiço, não permanece uma fatia uniforme. O lombo e as pontas são duas partes do salmão que não servem para fazer prato. O atum também, depois de ser limpo, tem uma vida de 2 dias porque  perde a cor  e quando servido cru ele não pode perder a tonalidade. A tainha, por exemplo, é tirada do mar, aberta e depois disso pode ser comida crua sem problema algum”.

Empadas
Tradição de Família
As empadas feitas por Adriana dos Reis Oliveira são de encher, não apenas os olhos, mas principalmente o estômago. Desde a década de 80 que o salgado vem fazendo sucesso entre turistas e ilhéus da região em um pitoresco bar: O Bar do Genésio, inaugurado em 1967 e que até hoje mantém uma clientela fiel com direito até a comunidade em site de relacionamento. A receita passada por gerações tem agradado a muitos paladares, prova disso é o resultado positivo nas vendas das empadas. Em um fim-de-semana movimentado de feriado, são vendidas cerca de 150, 170 unidades de empadas por dia e no réveillon, quase 300. O forte da casa são as de camarão, por serem mais difíceis de se encontrar.



DSC00665
Quando os primeiros navios negreiros desembarcaram no Brasil, trouxeram da África, não apenas os escravos para trabalhar como mão-de-obra nas fazendas e casas de colonos, mas também elementos que faziam parte de sua cultura, como crenças e gosto pela música e dança. A congada faz parte dessas tradições trazidas com os escravos. Em Ilhabela, o ritual é mantido há mais de dois séculos, sendo fiel às músicas, às fardas, às representações, aos toques de marimba e atabaques.
O cenário acontece nas ruas da Vila e trata-se de uma apresentação teatral em que o enredo representa uma desavença entre dois grupos que desejam festejar em honra de São Benedito. Os congos dividem-se em dois grupos: os congos de cima que são os fidalgos do rei vestidos de azul e considerados cristãos e os congos de baixo também denominados de congueiros do embaixador, vestidos de rosa, considerados pagãos.
Acontecem três bailes ao som de atabaques e marimbas de madeira. O primeiro chama-se “Roldão” ou “Macamba” e trata-se de uma cantiga dos congos de baixo no momento em que vão guerrear. O segundo é “Alvoroço”, “Jardim das flores” ou “Baile Grande”, onde ocorre uma guerra bastante violenta. O terceiro baile é o “São Matheus”, onde o embaixador é preso duas vezes. A guerra acontece porque os congueiros do embaixador lutam para que ele, filho bastardo do rei, conquiste o trono.
Em tempos remotos, a representação tinha data certa para acontecer: 3 de abril. Posteriormente, passou a acontecer em maio, época de lua cheia, quando os pescadores não saiam para pescar, podendo então participar da festa. A apresentação acontece nas ruas da Vila e a programação acontece sempre em uma sexta-feira, com o levantamento do Mastro, em frente à Igreja Matriz, seguido pela realização de uma missa em homenagem a São Benedito. No sábado e no domingo, acontecem os “bailes de congos” e, por volta do meio-dia, é realizada a Ucharia, palavra que significa “despensa da casa real” e designa o lugar onde é servido o almoço dos congueiros e seus convidados.
Por trás do canto e das danças dramáticas, esconde-se um cunho social que remete às lutas dos negros contra os brancos que invadiram a África em busca de escravos. No caso ilhabelense, a Congada é considerada uma das mais antigas do Brasil, mantendo uma fidelidade que resistiu aos séculos de opressão, inclusive por parte da Igreja.
História da Congada em Ilhabela
A origem dessa importante manifestação folclórica está totalmente ligada à chegada dos escravos a bordo dos navios negreiros. Em Ilhabela, o responsável pela disseminação da tradição foi o escravo Roldão Antônio de Jesus que, no ano de 1785, desembarcou na praia de Castelhanos e foi vendido para a Fazenda de São Mathias, no bairro de Cocaia. Muito devoto de São Benedito, difundiu suas crenças entre os demais. Nascia aí uma das mais importantes manifestações culturais da cidade que sobreviveu aos séculos.
Até hoje todos os participantes da Congada consideram-se escravos, devotos assíduos de São Benedito, fazendo promessas. A devoção é tamanha que nunca se apresentam em outra ocasião a não ser na festa de homenagem ao santo.
As primeiras manifestações da congada eram de responsabilidade total da família de Benedita Esperança, também escrava da Fazenda São Mathias. Posteriormente essa família organizou a Confraria de São Benedito, mais tarde extinta pelas autoridades religiosas em meados da década de 40 que proibiram a entrada dos congos na igreja.
DSC00682
ArteIlhabela/SP 18 jan 2013 0 comentário

ilha-bela-1086Os encantos naturais de Ilhabela são uma fonte inesgotável de inspiração para os artistas. Aos olhos atentos dos amantes da arte, o colorido formado pelo verde das matas, aliado ao azul do mar e as águas cristalinas das inúmeras cachoeiras ganham contornos tão belos quanto aqueles que foram agraciados pela mãe-natureza. Andando pela Ilha, deparamo-nos com detalhes que nos mostram o capricho e o bom gosto que se espalham por todos os lugares. São inúmeras obras de artes pela orla de norte a sul da ilha de São Sebastião, que dão ao transeunte a sensação de estar passeando em uma enorme galeria de arte a céu aberto.




 Waldemar Belisário
Em 1929, chega ao arquipélago, esse ilustre artista paulistano, nascido em 1895, que pintou, especialmente para levar à Europa, as maravilhas do local, porém o destino não fez com que Waldemar pudesse ir ao exterior, e se fixou bons anos em Ilhabela. Casou-se então com Celina Guimarães, que desenvolveu, junto à comunidade, o potencial artístico da população, surgindo assim vários nomes de expressão.  Belisário era filho de pais italianos. Sua adolescência foi toda passada na Europa e o convívio com o meio artístico despertou-o para as artes.  Entre os nomes que vieram a influenciar suas obras, temos Ficher Elponse e Pedro Alexandrino. Como sua irmã de criação Tarsila do Amaral, Waldemar também foi premiado. Em 1916, conquistou o prêmio no Salão Nacional de Artes Plásticas do Rio de Janeiro. Junto com Henrico Manzo, liderou o grupo de artistas plásticos denominado “pintores de arrabalde”. Sua última exposição foi em 1975, a convite de Pietro Maria Bardi, no Museu de Arte de São Paulo – MASP.
 Pietro Maria Bardi
Nascido em 1900 na Itália e chegou no Brasil após a Segunda Guerra Mundial e com as obras trazidas da Itália, Bardi organiza a “Exposição de pintura italiana moderna”, em cujos salões conhece o empresário Assis Chateaubriand, que o convida para montarem juntos um museu há muito tempo idealizado. De 1947 a 1996 Bardi cria e comanda o Museu de Arte de São Paulo, MASP. Paralelamente, mantém sua atividade de ensaísta, crítico, historiador, pesquisador, galerista e marchand.
Pintores de Arrabaldes
São artistas que pintam os arredores das cidades. Na semana de 22 de Arte Moderna, os “pintores de arrabalde” foram excluídos. Com esse fato, muitos ficaram revoltados, pois sua arte foi desconsiderada. Entre os mais conhecidos artistas desse segmento, estão Volpi, Reis Júnior, Visconti e Belisário. Por essa “injustiça” feita a nomes tão importante, é que Pietro Maria Bradi, em 1975 fez várias exposições com esses artistas e diz:  ‘Êsses pintores de 80 anos, verdadeiros operários da pintura, eu os estimo como velhos artistas, mas, também, como artistas que vão ao campo e armam seus cavaletes, resumindo num painel a impressão da natureza…”
Batique
Método manual de pintura sobre o tecido, originário da Indonésia. Técnica muito antiga que chegou à Europa pelos holandeses em suas expedições pelo continente Asiático. O processo consiste em cobrir áreas do tecido a serem trabalhadas com cera ou parafina, imergir o tecido em latões com tintas de cores variadas para o tingimento desejado de acordo com o desenho pretendido, retirar a cera ou parafina com água quente, lavar e passar.





Vila de Ilha Bela
Ao observar as ruas de Ilhabela fica bastante nítido o potencial turístico que o município-arquipélago apresenta. Restaurantes, galerias, lojas, hotéis e pousadas compõem uma infra-estrutura moderna, mas, o que muitos não sabem, é que algumas dessas edificações conservam vivos importantes momentos históricos como, por exemplo, os engenhos da Fazenda da Toca e o Engenho D’Água, que ainda exibem suas moendas e outros maquinários que produziram cachaça e melaço até os anos 80, remetendo-nos ao ciclo econômico da cana-de-açúcar, posteriormente substituído pelo ciclo do café. O Centro Histórico de Ilhabela, conhecido como Vila, é o local que mais abriga construções antigas e merece especial destaque à Igreja de Nossa Senhora da Ajuda e Bom Sucesso e a antiga Casa de Câmara e Cadeia. Passear por Ilhabela é um convite que contrasta progresso com natureza exuberante, presente com  passado. Sem dúvida uma harmonia  perfeita aos mais diversificados gostos.
O estilo arquitetônico e o tipo de material utilizado em cada construção sempre indicaram características culturais e sociais de um povo. Com a chegada dos colonizadores, as rudimentares residências de pau-a-pique, cobertas com o sapé e mais tarde com telhas, capa e canal,  também conhecidas como “casas caiçaras”, foram substituídas por casas feitas  em pedra e cal ou pedra e barro implantadas na região pelos segmentos sociais com maior poder aquisitivo. Nas regiões costeiras, as primeiras construções. após a chegada dos colonizadores, utilizaram as matérias-primas disponíveis no local. Muitos sambaquis foram destruídos por serem fonte de cal originado das conchas ali depositadas, para a liga utilizavam também o óleo de baleia. Aos restos construtivos em pedra e cal verifica-se a presença de fragmentos de louça européia, oriunda de Portugal e mais tarde com a abertura dos portos, a faiança Inglesa, ao lado de inúmeros recipientes de vidro, além de talheres e outros objetos de metal.
Igreja Matriz
Igreja Matriz de Nossa Senhora D`Ajuda e Bom Sucesso
É um monumento em estilo colonial construído pelos escravos entre 1697 e 1718, que utilizaram como principal material a pedra, conchas e o óleo de baleia. Foi inaugurada no ano de 1806 e reformada em meados do século XX por Alfredo Olían, misturando o barroco com o seu estilo original. No seu interior guarda-se um belo painel dedicado a Nossa Senhora D’Ajuda e Bom Sucesso.


Câmara Municipal
É um edifício em estilo militar construído no princípio do século XX, ano de 1911. Fica bem em frente ao canal de São Sebastião.  Hoje funciona a Secretaria de Cultura que possui salas com amostras de artesanato e rodas de farinha.
 Antiga Casa de Câmara e Cadeia
Em estilo eclético, foi declarada Patrimônio Histórico no ano de 2001. Atualmente abriga o Museu de História Natural de Ilhabela.
 Fazenda Engenho D’água
Localiza-se a menos de 3km do centro da cidade, no bairro de Itaguanduba. Construiu-se no final do século XVIII, em 1785 e foi um dos maiores produtores de açúcar, aguardente, café e arroz de todo o município. Foi  tombada pelo Condephaat como Patrimônio Histórico no ano de 1945. É impressionante suas dimensões e o local privilegiado onde foi construída.

Nenhum comentário: